quinta-feira, 25 de abril de 2013

Terrorismo - 25/04


Calos alunos,

Quatro videos onde o professor de relações internacionais da PUC-SP fala sobre o terrorismo:


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DOCUMENTO DA ONU


Nos anos 90, o fim da Guerra Fria levou a um novo ambiente de segurança global, marcado pelo maior foco nas guerras internas do que nas guerras entre Estados. No início do século XXI surgiram novas ameaças globais. Os ataques de 11 de setembro nos Estados Unidos foram uma clara demonstração do desafio do terrorismo internacional, enquanto eventos posteriores aumentaram a preocupação com a proliferação de armas nucleares e os perigos de outras armas não convencionais.


As organizações do Sistema das Nações Unidas mobilizaram-se rapidamente em suas respectivas esferas para intensificar a luta contra o terrorismo. Em 28 de setembro o Conselho de Segurança adotou a Resolução 1373, nos termos de aplicação da Carta da ONU, para impedir o financiamento do terrorismo, criminalizar a coleta de fundos para este fim e congelar imediatamente os bens financeiros dos terroristas. Ele também estabeleceu um Comitê Antiterrorismo para supervisionar a implementação da resolução.


Os trágicos acontecimentos de 11 de setembro também revelaram o perigo potencial das armas de destruição em massa nas mãos de agentes não-estatais. O ataque poderia ter sido ainda mais devastador se os terroristas tivessem acesso a armas químicas, biológicas e nucleares. Refletindo estas preocupações, a Assembleia Geral adotou, em 2002, a Resolução 57/83, primeiro texto contendo medidas para impedir terroristas de conseguirem tais armas e seus meios de lançamento.


Em 2004, o Conselho de Segurança tomou sua primeira decisão formal sobre o perigo da proliferação de armas de destruição em massa, especialmente para os atores não-estatais. Agindo de acordo com as disposições da Carta, o Conselho adotou por unanimidade a Resolução 1540, obrigando os Estados a interromperem qualquer apoio a agente não-estatais para o desenvolvimento, aquisição, produção, posse, transporte, transferência ou uso de armas nucleares, biológicas e químicas e seus meios de entrega. Posteriormente, a Assembleia adotou a Convenção Internacional para a Supressão de Atos de Terrorismo Nuclear, aberta para assinatura em 2005.


O Escritório das Nações Unidas contra Drogas e Crime (UNODC), localizado em Viena (Áustria), conduz o esforço internacional para combater o tráfico de drogas, o crime organizado e o terrorismo internacional. Ele analisa novas tendências da criminalidade e da justiça, desenvolve bancos de dados, divulga pesquisas globais, reúne e divulga informações, faz avaliações sobre as necessidades específicas de cada país e medidas de alerta sobre, por exemplo, o aumento do terrorismo.


Em 2002, o UNODC lançou seu Projeto Global contra o Terrorismo com a provisão de assistência técnica e jurídica aos países para tornarem-se parte e implementarem os 12instrumentos contra o terrorismo. Em janeiro de 2003, o UNODC expandiu suas atividades de cooperação técnica para fortalecer o regime legal contra o terrorismo, prestando assistência técnica e jurídica para os países em tornar-se parte e implementarem os instrumentos universais antiterrorismo.


Na esfera jurídica, a ONU e seus órgãos – como a Organização da Aviação Civil Internacional (ICAO), a Organização Marítima Internacional (IMO) e a Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) – desenvolveram uma rede de acordos internacionais que constituem os instrumentos básicos legais contra o terrorismo.


Estes instrumentos incluem convenções sobre crimes cometidos a bordo de aeronaves; apoderamento ilícito de aeronaves; atos contra a segurança de civis; crimes contra pessoas protegidas internacionalmente, incluindo diplomáticos; proteção física dos materiais nucleares; e a marcação de explosivos plásticos para fins de detecção. Além disso, eles incluem protocolos sobre atos de violência em aeroportos da aviação civil internacional, e sobre os atos contra a segurança de plataformas fixas localizadas no continente.




Infelizmente, grandes ataques terroristas continuaram após o 11 de setembro – incluindo ataques à sede da ONU em Bagdá(agosto de 2003); em quatro trens em Madrid (março de 2004); num escritório e em apartamentos em Al-Khobar, na Arábia Saudita (maio 2004); no metrô de Londres (julho de 2005); numa zona litorânea e num centro comercial em Bali (outubro de 2005); em vários locais de Mumbai (novembro 2008); nos hotéis Marriott e Ritz-Carlton em Jacarta (julho 2009), e no metrô de Moscou (março 2010), para citar apenas alguns.


Como parte do esforço internacional para conter esta onda mortal, a Assembleia Geral adotou por unanimidade e lançou, em 2006, a Estratégia Antiterrorista Global da ONU. Baseada na convicção fundamental de que o terrorismo, em todas as suas formas, é inaceitável e não pode nunca ser justificado, a Estratégia define uma série de medidas específicas para combater o terrorismo em todas suas vertentes, em nível nacional, regional e internacional.


Atos criminosos pretendidos ou calculados para provocar um estado de terror no público em geral, num grupo de pessoas ou em indivíduos para fins políticos são injustificáveis em qualquer circunstância, independentemente das considerações de ordem política, filosófica, ideológica, racial, étnica, religiosa ou de qualquer outra natureza que possam ser invocadas para justificá-los.




(Resolução 49/60 da Assembleia Geral, para. 3)






O Triângulo EUA-Irã-Al Qaeda ajuda a entender o terrorismo e os conflitos no Oriente Médio



Para compreender os conflitos no Oriente Médio e o terrorismo internacional é preciso observar o triângulo EUA-Irã-Al Qaeda. Os americanos são inimigos dos iranianos e da Al Qaeda. O regime de Teerã, por sua vez, é inimigo de Washington e da rede terrorista. A Al Qaeda, obviamente, é inimiga dos EUA e do Irã.


No Iraque, EUA e Irã estão do mesmo lado, embora com interesses diferentes. Ambos apoiam o governo de Nouri al Maliki. A Al Qaeda é adversária da atual administração em Bagdá.


Na Síria, EUA e a Al Qaeda buscam a queda do regime em Damasco, apesar de terem intenções distintas para o futuro dos sírios. Já o Irã é o maior aliado de Bashar al Assad.


Em Israel, Irã e Al Qaeda se posicionam contra os israelenses, ainda que a rede terrorista considere a Palestina uma questão secundária. Os EUA, por outro lado, é o maior aliado do governo em Jerusalém.


Resumindo, é um triângulo, no qual todos são inimigos entre si, mas que, algumas vezes, podem ter interesses comuns. 




Justiça, e não Drone, será usada contra Dzhokhar


Quando os Estados Unidos suspeitam de alguém ser envolvido com terrorismo no Yemen ou no Paquistão, um drone é enviado para um ataque seletivo contra esta pessoa supostamente ligada à Al Qaeda ou a outras organizações similares. Não existe um processo e tampouco garantia de que este indivíduo ou indivíduos realmente sejam envolvidos com planos de um ataque terrorista e representem uma ameaça a americanos.


Dzhokhar Tsarnaev, um dos suspeitos pelo atentado em Boston, tinha 19 anos, era carismático, bom atleta e estudava na Universidade de Massachusetts. Ele representava, porém, uma verdadeira ameaça aos EUA. De acordo com as próprias autoridades americanas, ele, junto com o irmão Tamerlan, realizou o ataque terrorista na maratona.


Naturalmente, muitos começaram a questionar sobre as diferenças entre Dzokhar e os suspeitos de terrorismo no Yemen. Ninguém usou um Drone para bombardear o barco onde ele estava escondido em Watertown, nos subúrbios de Boston. Muito menos contra a Universidade de Massachusetts, onde ele vivia em um dormitório estudantil. Afinal, o jovem terá direito a um julgamento na justiça civil. Além disso, no bombardeio, talvez os moradores das casas vizinhas ou seu roommate no dorm também morressem.


É admirável ver como a Justiça americana funciona, concedendo ao suspeito de terrorismo um defensor público formado em Yale e fluente em russo. Dzhokhar terá toda a chance de se defender das acusações e, se for o caso, até provar a sua inocência ou conseguir prisão perpétua em vez de pena de morte – o nigeriano que tentou explodir um avião em Detroit não pegou pena capital, por exemplo.


Pena que os moradores do Yemen e do Paquistão não têm o mesmo direito. Ser suspeito de terrorismo significa ser condenado à morte. Ser vizinho de um deles, idem.




Putin: terrorismo pode ser derrotado



A tragédia de Boston deve incentivar a Rússia e os Estados Unidos para unir esforços no combate ao terrorismo, disse o presidente russo, Vladimir Putin, respondendo a perguntas de cidadãos russos em sua entrevista anual transmitida ao vivo por rádio e TV.

“Exorto que esta tragédia nos estimule a bloquear ameaças comuns”, a mais perigosa das quais é o terrorismo, frisou Putin. “Se estivermos unidos, não iremos deixar passar tais golpes,” acredita o chefe de Estado russo.

“A Rússia também é um alvo do terrorismo internacional,” - salientou o presidente.




América face a novas formas de terrorismo


Uma semana depois dos atentados de Boston, as autoridades americanas falam abertamente de novas formas de terrorismo.

O departamento do Tesouro está particularmente envolvido no combate ao terrorismo financeiro que, através da lavagem de dinheiro e do tráfico de droga, tenta atacar o sistema no seu cerne.

O sub-secretário de Estado do Tesouro para o Terrorismo Finaceiro, David Cohen, deixa exemplos:

“O Hezbollah beneficia da rede de lavagem de dinheiro e faz lucros com o narcotráfico e com esquemas de branqueamento de capitais. Com estes fundos, o Hezbollah está envolvido em atos terroristas por todo o mundo”, acusa.


Os especialistas dos serviços secretos americanos sabem que a ligação do narcotráfico com o islamismo radical é cada vez mais estreita.


Como explica o agente da luta contra o narcotráfico, Derek Maltz, “os Estados que apoiam o terrorismo estão em declínio, em contrapartida, o terrorismo alimentado pelo tráfico de droga está a aumentar”.


Para além das redes poderosas e organizadas, com capacidade para ações espetaculares em larga escala, o mundo assiste ao recrudescimento dos chamados “lobos solitários”, de que os irmãos que alegadamente atacaram em Boston são um exemplo claro.


“O que sabemos é que estas pessoas são relativamente incompetentes, mas difíceis de detetar. Não representam o mesmo risco para a segurança que a al qaida. Não são capazes de destruir ou atacar grandes edifícios e provocar milhares de mortos”, diz o professor universitário Joseph Young.


Têm escassos meios mas escapam mais facilmente à vigilância e podem atacar onde menos se espera e essa é a preocupação dos americanos:


“Doze anos depois do 11 de setembro, a América entra numa nova era de terrorismo. O perigo dos “lobos solitários” e do terrorismo financeiro representam uma ameaça com a qual o país está a aprender a lidar. E o mais difícil é gerir o medo”, refere o repórter da euronews em Washingtom, Stefan Grobe.





A outra história do atentado em Boston: espetáculo em cinco atos




Postado em: 22 abr 2013 às 15:44

Cai a cortina. E, como em qualquer espetáculo teatral, o público aplaude os atores. Eles desfilam em seus carros com luzes que piscam vermelhas e azuis, os tanques antibombas passam sob um frenesi de uma sociedade que, desde 11 de setembro de 2001 vive a frustração por não ter conseguido caçar os terroristas que abalaram o orgulho nacional


Era Boston, início da tarde de 15 de abril, numa primavera sonolenta e ainda fria, quando dois irmãos saíram de casa. Nas costas carregavam um elemento cada dia mais demonizado pela sociedade americana: mochila. E essa tinha seus perigos. Ela transportava uma bomba. Caseira, rudimentar, de baixo impacto, de fácil feitura, numa panela de pressão. Mas continuava sendo uma bomba. E bombas, de nêutrons ou caseiras, são construídas com o mesmo objetivo. Para matar. Sempre.


Os jornais da cidade de Boston naquela segunda-feira, dia da “segunda maratona do mundo” (a primeira continua sendo a grega) trazem notícias corriqueiras., além do assunto do dia, a maratona . Nas primeiras páginas do jornais de Boston, New York, Washington, Chicago, Miami, nenhuma linha sobre o que acontecera na véspera, domingo, 14 de abril. Naquele dia, 30 pessoas, entre elas oito crianças, foram mortas por um drone no Afeganistão. A máquina da morte confundiu uma cerimônia de casamento com ato terrorista. Há quem concorde.


São 2h17min da tarde de 15 de abril na bela e culta cidade de Boston. Correrias, sirenes, multidão em polvorosa. A bomba havia explodido. Três pessoas são envolvidas em sacos plásticos. Mortas. Outras 160 se espalham pela rua interditada e pelas calçadas. Feridas. Comoção nacional. Não pelo drone que matou 30 pessoas inocentes. Mas pelo “ato terrorista” que matou três inocentes, entre eles um garoto e 160 feridos. Um deles, com pernas amputadas.


24 horas do atentado, nenhum suspeito. Nada. Nenhuma testemunha mas (as conjunções adversativas sempre mudam a história do mundo), surge a primeira imagem, um primeiro suspeito. Alguém que andava sobre os telhados na hora da maratona.


As especulações qual coriscos ensandecidos, riscam os céus de Miami, Chicago, Washington, New York e Boston. “Isso é coisa do Tea Party”, reclamam uns. “Parece que foi ação de quem é contra a alta de impostos”, bradam outros. Ninguém se lembra de que o Congresso dos EUA está, nesse momento, discutindo uma Lei de Migração menos draconiana. A discussão arrepia e traz pesadelos para a extrema direita e seu atual líder, senador pela Flórida, Marco Rúbio. Filho de cubanos fugidos da ilha nos 60.


Quarta-feira, 17 de abril. A câmera de um “anônimo” traz, finalmente, aquilo que mais de 300 milhões de americanos esperavam. A imagem de dois rapazes. Eles e suas e suas mochilas. Os dois próximo à lixeira onde a bomba fora deixada.


Ainda é 17 de abril. A voz da âncora da Fox News ecoa pelos ares de um país em pânico. Mas, antes de qualquer pronunciamento oficial, a âncora da Fox News canal de televisão de Rupert Murdoch (a mesma que se recusou a acreditar na reeleição de Obama) deixa escapar o cheiro da panela. Um cheiro de Islam servido num samovar.
17 de abril, em Boston, a câmera com imagem dos dois irmãos, de nomes impronunciáveis no Ocidente, se junta a outras câmeras. A CIA entra em ação para ampliar as imagens que mais a interessavam A dos dois irmãos. A Polícia de Boston nega ter feito a captura de qualquer suspeito.


Já é quinta-feira, 18 de abril. CNN, com seu noticiário desbotado e Fox News exigindo vingança passam a centralizar o noticiário na busca dos “terroristas”. Às nove da noite desse dia, as imagens dos dois irmãos surge nas telas das redes sociais com a tarja “Wanted” (Procurados). A mesma tarja utilizada na colonização da costa Oeste do país para encontrar pistoleiros ou ladrões de gado, de banco…


Ainda é quinta-feira. Dez da noite. O lado Leste dos EUA já se entregou ao sono. A sociedade estadunidense dorme cedo. Mantém até hoje hábitos rurais, com algumas exceções. Na Fox News, uma voz embargada de emoção anuncia que uma loja de conveniências foi assaltada. Eram os dois irmãos. Eles também fizeram um refém, o dono de uma Mercedes SUV (Sport Utility Vehicule), um jeep possante. O refém escapa enquanto os irmãos assaltam a loja. Nem o FBI, nem a CIA, nem a Polícia de Boston mostra a loja do assalto e muito menos o cidadão sequestrado.


A partir daí, a tarja “Wanted” pode ser substituída pela tarja “Fiction”. Ou, acredite, se quiser. Porque, nessa tragédia, com cinco mortos (os quatro pela bomba e um dos irmãos pela polícia) a verdade de substantivo abstrato, torna-se substantivo volátil.


10h30min da noite de quinta-feira, os dois irmãos, mesmo num carro possante, não tinham se afastado tanto do local do sequestro seguido de roubo. A Polícia cerca o carro. Uma câmera imóvel filma o tiroteio. O som dos tiros são nitidamente de armas do mesmo calibre. Mas a versão oficial informa que a polícia foi recebida com bombas, embora o vídeo de câmara parada não mostre nenhuma explosão.


O mais velho dos irmãos é preso (ou se entrega, ninguém sabe). E morre “a caminho do hospital”. Ou vocês pensavam que só bandido brasileiro morre a caminho do hospital depois de “intensa troca de tiros”?


O irmão caçula, ferido, consegue escapar. Deixa um rastro de sangue, mas a polícia não segue as pegadas frescas. Desloca-se para uma pacata cidadezinha, Watertown para vasculhar a casa onde, afirmam as autoridades, viviam os irmãos. A essa altura, o telespectador já sabe que eles são estrangeiros. Vieram da sofrida Chechênia, país localizado numa região onde a morte chega pelas mãos das tropas de ocupação do Afeganistão. Ou, pela arma mais abjeta criada pela indústria armamentista dos Estados Unidos, o drone.


Os repórteres, âncoras e comentaristas se entreolham decepcionados. Por que Chechênia? Afinal de contas, Chechênia, é um país invadido pela Rússia. Seus imigrantes têm direito ao status de “refugiados”. Ou seja, os dois estavam fugindo do antigo inimigo número um dos EUA, a poderosa União Soviética. Um fantasma que por mais de cinco décadas povoou os pesadelos dos americanos. Não fazia sentido, bradavam os analistas e especialistas em Segurança e Terrorismo.


Helicópteros, carros antibombas, agentes com colete do FBI, Polícia de Boston, sirenes incessantes. A casa é cercada. São 10h30 da manhã de 19 de abril. A caçada fora iniciada doze horas antes. O movimento é acompanhado por centenas de jornalistas e canais de TV. As ruas da cidade foram fechadas. Ninguém entra ou sai. Os vôos, cancelados. Boston e seus arredores transformam-se em cidades sitiadas. “Estou no meio da guerra” dizia ao microfone um repórter da Fox News num cenário onde não se via carros ou pessoas.


Pé ante pé, rodeados por câmeras de grandes e pequenos canais de TV, batalhões de policiais, agentes do FBI, especialistas em desarmar bombas, helicópteros de guerra sobrevoam a pacata Watertown.


A âncora da Fox News baixa o tom de voz dramaticamente para dizer, “o procurado é uma pessoa de extrema periculosidade”. Ela está rouca e muito excitada. A polícia, qual seriado de TV, põe a arma em diagonal (nunca entendi porque as armas ficam na diagonal da mão quando a polícia busca criminosos). Chegam à casa onde viveriam os dois irmãos. Não se ouve nada. Nenhum som.


Frustração. Os policiais abandonam o interior a busca. E saem declarando que havia um verdadeiro arsenal dentro da casa vazia. E muitas bombas, algumas delas de alto poder destrutivo e que “exigem treinamento para sua fabricação. Não há imagens do arsenal.


Só um protesto diante da cena. A tia dos dois irmãos é advogada. Sem papas na língua. E vive no Canadá. Quando uma jornalista lhe pergunta o que acha do fato de seus sobrinhos terem bomba em casa, ela, voz firme, com forte sotaque do Leste europeu: “Evidências. Quero evidências de que havia bombas. Quem está informando sobre as bombas é o FBI e a CIA. Mas não há evidências”. E até agora as evidências continuam no anonimato.


Ninguém contesta a informação. Ninguém se pergunta por que os dois irmãos, “pessoas de extrema periculosidade” deixaram em casa bombas potentes e usaram uma outra de baixo impacto.


“Necessidade de treinamento para a fabricação”. A frase, parece solta ao acaso. Mas não se iludam. É o primeiro passo, o primeiro elo com o “terrorismo” (leia-se “terrorismo islâmico”).


14h30min de 19 de abril. A caçada continua sem pistas da pessoa de “extrema periculosidade”. A essa altura, na cozinha da Fox News, a panela de pressão assovia. Na tela o sinal de “Alert”, ou seja, vem notícia bombástica (sem trocadilhos).


E, para um público que, passivamente se deixa impregnar pelo noticiário como se fossem gansos alimentados para que seus fígados engordem e se transformem em paté de “foie gras”, a voz que alicia multidões diz que…tchan…tchan…tchan, o mais velho dos irmãos passou “seis meses na Chechênia.


Que absurdo! Como é que um checheno tem a ousadia de passar seis meses na Chechênia, mesmo morando no país mais rico e poderoso do planeta? Isso é crime. É sinal explícito de militância terrorista.


Mas ainda não era tudo. Os ponteiros do relógio avançavam. A caçada ia a passos de um velho celacanto. Nessa época do ano, o dia invade a noite. Só se deixa vencer quando não mais consegue provar o poder do sol.


As tropas tomam outra direção. Agora procuram um barco ancorado na terra. Lá está um adolescente. Ferido. Sangrando.


São 19h30 em Boston e seus arredores. A claridade é suficiente para encontrar filhotes de esquilo em mata fechada. Os helicópteros continuam vasculhando céu, terra. As tropas do país mais armado do mundo parecem perdidas. O bombardeio da Foz News sobre os gansos repete exaustivamente as mesmas informações. Em tons de filme macabro ou novela policial, os âncoras se revezam em adjetivos. Os gansos estão quase a ponto de virar patê de foie gras, explodindo de ódio contra os seguidores do Alcorão.


A luminosidade cede lugar às primeiras escuridões. A Fox News, num tom solene anuncia que o aparato policial “avança com cautela” porque quer pegar o irmão sobrevivente “vivo”. Como se fosse uma grande concessão.


21 horas. Já é noite de 19 de abril em Boston, em Watertown, Miami, New York e Washington. Em Chicago ainda há luz. A escuridão impede imagens nítidas mesmo para câmeras poderosas. E… “cantemos ao senhor”, a pessoa de “extrema periculosidade” é capturada. Está ferida. Perdeu muito sangue por quase 24 horas. Debruçados sobre um corpo magro, os paramédicos impedem telespectadores de olhar a cara do “terrorista” que é levado para o hospital. Os helicópteros com luzes infravermelho retornam à base.


Cai a cortina. E, como em qualquer espetáculo teatral, o público aplaude os atores. Eles desfilam em seus carros com luzes que piscam vermelhas e azuis, os tanques antibombas passam sob um frenesi de uma sociedade que, desde 11 de setembro de 2001 vive a frustração por não ter conseguido caçar os terroristas que abalaram o orgulho nacional.


O espetáculo que se encerra com os habitantes de toda uma cidade carregando flores ou velas protegidas por saco de papel cantando “God save America. My home, sweet home/ God save America/ my home sweet home, numa verdadeira catarse nacional.




Discurso do parlamentar belga LAURENT LOUIS na sessão do Parlamento de 22 / 01 / 2013:



Obrigado sr. Presidente. Prezados ministros e senhores colegas,


A Belgica é mesmo um pais de surrealismos. Esta manhã, soube pela midia que o exercito belga é incapaz de lutar contra alguns soldados extremistas com convicçoes islamicas radicais que existem no seu proprio exercito e que não podem ser desligados por falta de suporte legal. No entanto, ao mesmo tempo, decidimos ajudar a França em sua guerra contra o “terrorismo” oferecendo apoio logistico em sua operaçao no Mali. O que não faríamos para lutar contra o terrorismo do lado de fora das nossas fronteiras! Só espero que não enviemos pra esta operaçao anti-terrorista no Mali esses famoso soldados belgas islamicos.


Parece brincadeira, mas o que está acontecendo no mundo hoje nao me faz rir de maneira alguma. Não me faz rir, porque sem duvida, os lideres dos nossos paises ocidentais tomam as pessoas por imbecis, com ajuda e apoio da imprensa, que hoje em dia nada mais é do que um orgão de propaganda das classes dominantes. Em toda parte do mundo, as intervençoes militares e a desestabilizaçao de regimes estao cada vez mais frequentes. A guerra preventiva tornou-se a regra. E, atualmente, em nome da damocracia e da luta contra o terrorismo, nossos Estados se outorgam o direito de violar a soberania de paises independentes e derrubar regimes legitimos.


Temos o Iraque e o Afeganistão, as guerras da mentira americana. Depois tivemos a Tunisia, o Egito e a Libia, onde graças à decisao dos senhores, nosso país participou na linha de frente em crimes contra a humanidade. Em cada caso para derrubar regimes progressistas e moderados e para substitui-los por regimes islamiscos. Não é estranho?


A primeira medida deles foi de impor a lei Sharia. Isso é exatamente o que acontece na Síria onde a Bélgica está vergonhosamente financiando o armamento do exercito de rebeldes islâmicos que estão tentando derrubar Bashar Al Assad, Assim, no meio de uma crise econômica, enquanto mais e mais Belgas estao com dificuldades de para pagar por moradia, alimentaçao, aquecimento e assistencia médica.


E, sim, posso ouvir que populista sujo eu sou! Bem, o Ministro das Relações Exteriores decidiu oferecer aos rebeldes Sírios 9 milhões de euros! Naturalmente, eles vão tentar nos convencer que esse dinheiro vai ser usado para propósitos humanitários. Mais uma mentira!


E como vocês podem ver, por meses, nosso país está apenas participando para colocar no poder, regimes Islâmicos no Norte da Africa e no Oriente Médio. Portanto, quando eles vem e fingem ir para a guerra para lutar contra o terrorismo em Mali, bem, me dá vontade de rir. Isso é falso!


Sob a aparência de boas ações, nós só interferimos para defender interesses financeiros numa completa mentalidade neo-colonialista. Um real absurdo ir ajudar a França em Mali em nome da luta contra o terrorismo islâmico quando ao mesmo tempo, nós ajudamos na Síria rebeldes islâmicos a derrubar Bashar Al Assad que querem impor a lei Sharia, como foi feito na Tunísia e na Líbia Já está na hora de parar de mentir para nós tratando o povo como imbecis Chegou a hora de dizer a verdade.


Armando rebeldes islâmicos, como os ocidentais fizeram, no passado armando Bin Laden, aquele que era amigo dos americanos antes deles terem se virado contra ele, bem, os países ocidentais estão tendo a oportunidade de colocar bases militares nos países recentemente conquistados enquanto favorecem empresas nacionais.


Portanto tudo é estratégico. No Iraque, nossos aliados americanos, colocaram suas mãos nas riquezas petrolíferas do país. No Afeganistão, foi o ópio e as drogas sempre útil quando é para fazer muito dinheiro o mais rápido possível. Na Líbia, na Tunísia, no Egito, ou então de novo na Síria, a meta era e ainda hoje é derrubar poderes moderados, para substituí-los por forças islâmicas que rapidamente, se tornarão um problema e que nós sem vergonha nenhuma atacaremos fingindo mais uma vez, lutar contra o terrorismo ou proteger Israel. Assim, os próximos alvos já são conhecidos. Dentro de alguns meses, eu aposto que nossa atenção vai se voltar para Algéria e eventualmente para o Irã.


Ir para a guerra, para libertar povos de um agressor estrangeiro, é nobre Mas ir para a guerra para defender os interesses dos Estados Unidos, Ir para a guerra para defender os interesses de grandes empresas como a AREVA, ir para a guerra para colocar nossas mãos em minas de ouro, não tem nada de nobre mesmo e mostra como nossos países são os agressores e ladrões! Ninguém ousa falar, mas eu não vou me calar! e se minha batalha me faz parecer um inimigo desse sistema que alardeia os direitos humanos em nome de interesses econômicos, geo-estratégicos e neo-colonialistas, que assim seja!


(...)


E é por essa razão que eu decidi me opor claramente a essa resolução que está levando nosso país a ajudar a França em sua operação neo-colonialista. Desde o começo da operação Francesa, a mentira é organizada. … dito a nós que a França está apenas respondendo a um chamado de ajuda do Presidente de Mali. Nós quase nos esquecemos que esse presidente não tem legitimidade e que ele foi colocado no poder para garantir a transição após o golpe de estado de Março de 2012.


Quem deu suporte a esse golpe de estado? Quem o iniciou? Para quem esse Presidente de transição trabalha na verdade?


Essa é a primeira mentira! O Presidente Francês, François Hollande ousa fingir travar essa guerra para lutar contra os Jihadistas que ameaçam (oh, você percebe!) que ameaçam os territórios Francês e Europeu! Mas que mentira feia!


Ao usar esse argumento oficial, enquanto usando a oportunidade para assustar a população aumentando o nível de alerta ao terror, implementando o Plano Vigipirate nossos líderes e a Mídia estão demonstrando um ultraje inimaginável!


Como eles ousam usar tal ponto enquanto França e Bélgica não hesitaram em armar e ajudar Jihadistas na Líbia e que esses mesmos países continuam a ajudar esses Jihadistas na Síria. Esse pretexto esconde propósitos estratégicos e econômicos.


Nossos países não temem mais a inconsistência porque é feito de tudo para esconder isso. Mas a inconsistência está bem presente. Não será amanhã que vocês verão um cidadão de Mali cometer um ato de terrorismo na Europa.


Não! A não ser que de repente nós criássemos um então poderemos justificar essa operação militar. Nós não criamos o 11 de Setembro, afinal, para justificar as invasões, prisões arbitrárias, tortura e o massacre de populações inocentes?


Assim, criar um terrorista Mali não é grande coisa! não deve ser tão complicado para nossos líderes sanguinários.


Outro pretexto usado nesses meses recentes para justificar operações militares, é a proteção dos direitos humanos. Ah! Esse pretexto é usado ainda hoje para justificar a guerra em Mali.


Mas sim! nós temos que agir, caso contrário os islâmicos do mal vão impor a lei Sharia em Mali, apedrejando mulheres e cortando as mãos dos ladrões.


A intenção é nobre. Nobre e salutar com certeza. Mas então porque isso, meu bom Deus, porque é que nossos países contribuíram na Tunísia e na Líbia para a ascenção ao poder pelos islâmicos que decidiram aplicar essa mesma Lei Sharia nesses países o qual ainda eram até pouco tempo atrás, modernos e progressistas?


Eu os convido a perguntar aos jovens Tunisianos quem lançou a revolução na Tunísia, se eles estão felizes com sua atual situação? Isso é tudo hipocrisia. O propósito dessa guerra em Mali é bem claro.


(...) O propósito é o de lutar contra a China e permitir aos nossos aliados americanos manterem sua presença na Africa e no Oriente Médio. Isso é o que guia essas operações neo-colonialistas.


E vocês vão ver, quando as operações militares terminarem, a França vai, é claro, manter sua base militar em Mali. Essas bases também irão beneficiar os americanos.


E ao mesmo tempo, como sempre tem sido o caso, corporações ocidentais colocarão suas mãos em contratos suculentos que irão mais uma vez privar os países re-colonizados de suas riquezas e matérias primas.


Então sejamos claros, os principais beneficiados dessa operação militar, serão os proprietários e acionistas da gigante Francesa AREVA que tem tentado por anos obter uma mina de Urânio em Falea, uma cidade de 17.000 habitantes localizada a 350 km de Bamako.


E eu não sei porque, mas meu dedinho está me dizendo que não vai demorar muito antes e a AREVA vai eventualmente explorar aquela mina! (...) E para aqueles que duvidam dos meus argumentos, Eu sinceramente os convido a aprender algo sobre as riquezas de Mali.


Mali é um grande produtor de ouro, mas recentemente foi designado recentemente, como sendo um país que oferece um ambiente de classe mundial para a exploração de Urânio.


Que estranho! Um passo adiante para uma guerra contra o Irã, é óbvio.


Por todas essas razões e para não cair nas armadilhas de mentiras as quais estão nos empurrando, Eu decidi não dar meu apoio para essa intervenção em Mali.


Portanto, eu vou votar contra. E fazendo isso, estou sendo consistente uma vez que, eu nunca apoiei no passado nossas intervenções criminosas na Líbia ou na Síria, e então sendo o único parlamentar nesse país a defender a não-interferência e a luta contra interesses obscuros.


Eu realmente penso que já é hora de colocar um fim em nossa participação nas Nações Unidas ou na OTAN e cair fora da zona do Euro se a Europa, ao invés de fornecer a paz se tornar uma arma de ataque e desestabilização de países soberanos submissos a interesses financeiros e não humanitários Finalmente, eu só posso insistir com nosso governo para lembrar ao Presidente Hollande as obrigações resultantes da Convenção de Genebra referente ao respeito aos prisioneiros de guerra.


De fato, eu fiquei chocado ao ouvir na televisão da boca do Presidente Francês que sua intenção era de "destruir" Eu disse "destruir" - terroristas islâmicos.


Então, eu não quero que essa qualificação seja usada para nomear os oponentes do regime de Mali - sempre conveniente hoje em dia falar sobre terroristas islâmicos- usados para envolver as obrigações de qualquer estado democrático em termos de respeitar os direitos de prisioneiros de guerra. Nós esperamos tal respeito da Pátria dos direitos humanos.


Para terminar, deixem-me enfatizar como decidimos ir para a guerra tão facilmente Primeiro, o governo age sem nenhuma permissão do parlamento. Parece que ele tem o direito de fazer isso.


Ele envia equipamentos, homens para Mali O parlamento reage subsequentemente e quando responde, como hoje, bem, essa instituição parece ser composta de apenas 1/3 de seus membros.


Muito menos se nós falarmos dos discursos dos parlamentares franceses. E portanto, uma culpa leve o qual não me surpreende, vindo de um parlamento de cachorrinhos, submissos aos ditadores dos partidos políticos.


Obrigado.




Extras: 




sexta-feira, 5 de abril de 2013

Desvendando a América Latina - Documentário

Este documentário de quatro episódios produzido pelo National Geographic Channels International aborda os acontecimentos que definiram o atual panorama político e social da América Latina. Cada episódio aborda um assunto - indigenismo, imperialismo, populismo e ditadura - e analisa as raízes das tendências surgidas no século 20, examinando suas causas e seus efeitos, além da sua influência permanente.

Por meio do olhar do apresentador e de vários protagonistas e testemunhas da história recente, a série avalia as conseqüências de certos líderes e acontecimentos para latino-americanos com diferentes bagagens étnicas e culturais. Também reflete sobre como as novas formas de "indigenismo", "imperialismo", "populismo" e "ditadura" afetarão o futuro próximo.

O episódio sobre "Indigenismo" mostra os intensos movimentos que buscam reparar as injustiças sofridas pela população de descendentes de índios. O do"Imperialismo" aborda a relação complexa e traumática entre a América Latina e as grandes potências mundiais, incluindo os Estados Unidos, a ex-União Soviética e a China, e as mudanças que esta relação sofreu até os dias de hoje. O episódio sobre "Populismo" avalia como a insatisfação dos cidadãos com a democracia e as grandes instituições do Estado abriu as portas para líderes que estão se colocando acima dessas instituições. E o sobre "Ditadura" investiga os legados das ditaduras de direita e de esquerda e mostra como a ditadura tradicional tem sido substituída por formas mais sutis de autoritarismo.

Fonte: NatGeo