terça-feira, 30 de outubro de 2012

Um chavismo sem Chávez é possível?


 por Steve Ellner
Economia profundamente reestruturada, apoio popular que o passar dos anos não erodiu, candidatos à sua sucessão... Uma derrota de Hugo Chávez nas eleições de 7 de outubro ou sua morte conduziriam ao fim do processo político ao qual ele deu início?

 "Um favor é sempre obtido em troca de outro”, admite Joanna Figueroa. Essa moradora de Viñedo, bairro popular da cidade costeira de Barcelona, no leste da Venezuela, prometeu trabalhar pela reeleição de Hugo Chávez desde que o Estado lhe proporcionou um teto por meio da Grande Missão Habitação, um ambicioso programa de moradia social. Ela própria construiu sua casa, em meio a uma “equipe de trabalhadores” formada por um pedreiro, um encanador e um eletricista nomeados por um conselho comunitário. Seu trabalho consistiu em misturar o cimento. “O amor que recebemos é pago pelo amor que damos de volta”, professa, retomando o lema em uso entre os partidários de Chávez. O sucesso desse refrão, ouvido em todo o país, reflete o vínculo emocional que existe entre muitos venezuelanos e seu presidente.

A eleição em 7 de outubro próximo cristaliza questões consideráveis. Embora o candidato da oposição Henrique Capriles Radonski goste de se apresentar como um renovador, sem vieses ideológicos, ele também não deixa de pertencer ao conservador Partido da Justiça (PJ), que defende os interesses dos investidores privados e vê com desconfiança qualquer intervenção do Estado na economia. A oposição amadureceu, no entanto, desde seu golpe fracassado de 2002 e de sua decisão, tomada por despeito na esteira dos acontecimentos, de boicotar as eleições nacionais. Agora, seus líderes participam do processo eleitoral e demonstram apoio fervoroso à Constituição de 1999, aprovada por uma maioria esmagadora dos votos e a qual tinham rejeitado na época. Eles chegaram até mesmo a se unir em torno de um candidato comum, investido em fevereiro depois de uma primária.

O bom balanço da Missão Habitação, que forneceu um teto para milhares de famílias de baixa renda envolvendo-as na aplicação do programa no âmbito dos bairros, provavelmente contribui para a persistente popularidade de Chávez, que continua à frente nas pesquisas. A oposição tenta inutilmente proclamar que tem a vitória, mas um certo desencorajamento emerge. Figura influente da direita e adversário ferrenho de Chávez, o empresário da comunicação Rafael Poleo recentemente desautorizou a candidatura de Capriles, considerado “incapaz de ir aonde quer que seja”. A declaração se seguiu à publicação em maio de uma pesquisa de opinião que dava 43,6% dos votos ao presidente em exercício, contra apenas 27,7% para Capriles. O balanço do governo Chávez recolheu por sua vez 62% de opiniões favoráveis − uma pílula que se torna ainda mais amarga quando se sabe que o autor da pesquisa, o Instituto Datanalisis, pertence a Vicente Leon, fiel partidário da oposição.

A popularidade que Chávez parece usufruir não deixa de surpreender, dados os seus treze anos de poder e o cansaço que tal longevidade instala necessariamente na opinião pública. Sua candidatura poderia sofrer de incertezas relacionadas ao seu câncer, tornado público em 30 de junho de 2011 (sem que tenham sido revelados o local e a gravidade da doença). A oposição também não deixou de denunciar a falta de visão do presidente, que se recusou a nomear um substituto capaz de assegurar a continuidade do poder em caso de vacância precipitada. Dentro e fora do país, os meios de comunicação próximos aos negócios exploram de bom grado os problemas de saúde do chefe de Estado venezuelano para minorar suas chances de reeleição. Como indica um estudo realizado pelo jornalista Keane Bhatt, o duelo sob os trópicos entre a “fragilidade de Chávez” e a “energia juvenil” de Capriles se impôs como um clássico na produção da Reuters, da Associated Press e do Miami Herald.1

A irrupção da doença também revive a espinhosa questão da liderança no seio do movimento de Chávez, que começa a reconhecer que a concentração do poder em suas mãos não tem só vantagens: enquanto seus ministros vêm e vão, o presidente – cujo retrato adorna quase todos os cartazes bolivarianos – reina como a única encarnação de um processo político que parece só depender dele.

Durante uma visita ao Brasil, em abril de 2010, um repórter perguntou a Chávez se ele planejava um dia dar lugar a outro dirigente: “Eu não tenho um sucessor em vista”, retrucou. É esse o caso ainda hoje? No ano passado, ele fez uma concessão a um de seus ex-assessores, o acadêmico espanhol Juan Carlos Monedero, que acabara de alertá-lo contra os perigos de um “hiperliderança” na Venezuela: “Eu preciso aprender a delegar mais poder”. Durante os períodos em que os tratamentos o afastavam dos negócios, vários políticos ocuparam o vazio e surgiram como potenciais sucessores. Notadamente, o atual ministro das Relações Exteriores, Nicolás Maduro, um ex-líder sindical que presidiu a comissão que esteve por trás da nova legislação trabalhista e que dispõe de sólidos apoios entre organizações dos trabalhadores. Ou ainda o vice-presidente executivo Elías Jaua, muito popular entre as bases militantes do movimento chavista. Sem mencionar o presidente da Assembleia Nacional, o pragmático Diosdado Cabello, um ex-tenente que tem fortes apoios no Exército. Apesar da onipresente tutela de Chávez, “alguns de nós pensamos que seria difícil continuar o processo”, explicou Monedero em maio passado. “Agora não temos mais esse medo, pois vejo dezenas de pessoas que poderiam continuar o trabalho sem o menor problema.”

Em direção ao socialismo

No caso de um terceiro mandato, o futuro político de Chávez dependerá sem dúvida da capacidade de seu staff de aprofundar as mudanças iniciadas, desenvolver novos programas sociais, fortalecer a base popular e lutar contra a insegurança.2 O caminho já percorrido não permite prever isso. Eleito pela primeira vez em dezembro de 1998, com um programa moderado concebido para apagar a imagem beligerante que estava colada a ele desde sua tentativa de golpe em 1992, o ex-encrenqueiro da Academia Militar de Caracas ficou ansioso para votar uma nova Constituição, lançar uma ampla reforma agrária e transformar a legislação social e econômica. Em 2005, ele proclamou sua conversão ao socialismo e nacionalizou os setores estratégicos da economia, tais como telecomunicações, bancos, eletricidade e aço. A partir de 2009, a “revolução bolivariana” começou a estender seu controle às empresas menores, mas cruciais para a vida diária da população. Acompanhada por uma escalada verbal contra a “burguesia”, a “oligarquia” e o “imperialismo norte-americano”, essa política de expropriação perseguiu, no entanto, um objetivo menos controverso: garantir a soberania alimentar do país.

Por meio de uma rede de empresas públicas, bens de primeira necessidade, como arroz, café, óleo ou leite, passaram a ser produzidos no local de consumo e estão disponíveis a preços acessíveis. Em junho, a Venezuela chegou a inaugurar sua primeira linha de produção de maionese à base de óleo de girassol. O estabelecimento de novos serviços públicos reconhecidos como eficientes – alimentação, bancos, telecomunicações – sugere que um Estado não é necessariamente incompetente para gerir empresas. A demonstração é menos convincente no caso de indústrias pesadas, como a do aço, do alumínio e do cimento, ainda atormentadas por conflitos sociais e pelas falhas da rede comercial. Assegurando ele próprio a venda de materiais de construção para os bairros carentes, sem passar por intermediários preocupados com suas margens de lucro, o governo espera resolver pelo menos parte do problema.

De acordo com a Comissão Econômica da Organização das Nações Unidas para a América Latina e o Caribe (Cepal), o índice de pobreza na Venezuela diminuiu 21% entre 1999 e 2010. Mas essa proposta de redistribuição em favor dos mais pobres não faz a felicidade das classes médias, que permanecem em sua maioria hostis ao presidente em fim de mandato. Se as pesquisas dão a este último um avanço de vinte pontos sobre seu rival, as proporções se invertem quando nos aproximamos dos bairros mais desenvolvidos. Entre os mais ricos, o bardo do bolivarismo muitas vezes desperta uma hostilidade visceral, em razão do medo – inteligentemente mantido pela oposição e pelos meios patronais – de que o governo acabe um dia por proibir a propriedade privada. Ao que se acrescenta em alguns casos um ressentimento em relação aos pobres, que parecem drenar para eles todas as benesses do Estado. O governo, no entanto, não economizou ações para as classes médias e altas, como a introdução de uma taxa de câmbio preferencial para viagens ao exterior.

Enquanto Chávez parece querer se destacar de certos excessos do passado, Capriles desempenha decididamente o papel de homem da renovação. Ele nunca perde a oportunidade de lembrar que tem apenas 40 anos e que, portanto, não é responsável por políticas desastrosas impostas aos venezuelanos antes de 1998 – mesmo que os partidos que estavam no comando na época o apoiem hoje. Em seus discursos, frequentemente associa a “velha maneira de fazer política” aos episódios de intolerância e de polarização que marcaram o país antes e depois da chegada ao poder de Chávez. Posando como um baluarte contra o sectarismo, ele promete não excluir programas sociais do atual governo, mas sim melhorá-los. Oferece, por exemplo, a colocação em votação de uma nova lei, chamada “Missões iguais para todos”, que garantiria aos cidadãos de todas as classes e de todos os rótulos políticos o acesso aos programas sociais. Entrevistado por um canal de TV privado em 1o de fevereiro de 2011, explicou: “O que é positivo no balanço de Chávez é que ele recolocou na ordem do dia a questão da luta contra a pobreza. Mas agora temos de ir mais longe e superar os meros discursos para acabar com esse flagelo”.

Sem dúvida alguma – os números da Cepal confirmam isso –, os programas sociais do governo venezuelano não se baseiam em “meros discursos”. Mas as propostas de Capriles (que corroboram as de Teodoro Petkoff, um ex-guerrilheiro que agora é porta-voz do establishment local) representam uma forma de vitória ideológica de Chávez. Elas também mostram que, aos olhos do candidato da oposição, o ex-tenente-coronel não seria talvez o ditador louco que os meios de comunicação privados denunciam há anos.

Se a oposição quase não contesta mais a eficácia da política social bolivariana, Chávez e Capriles assumem em contrapartida posições diametralmente opostas em matéria de política econômica. É em relação à questão das desapropriações que os dois lados combatem com mais virulência. Para os partidários de Chávez, a desapropriação é uma ferramenta para construir uma economia mista dedicada ao interesse geral, nomeadamente no que se refere à construção, aos bancos e à alimentação: abrindo uma brecha no domínio dos monopólios privados sobre esses setores vitais, o Estado pôs fim à escassez artificial que outrora os consumidores experimentavam. “Por que desta vez não se vê nenhum tipo de escassez, como as que atingiram o país durante os períodos eleitorais passados?”, perguntou recentemente o deputado Iran Aguilera, que é próximo de Chávez. “Porque as empresas do Estado preencheram o vazio que era criado com fins políticos pelo setor privado.”

 Oposição, currículo sob suspeita

A oposição, por sua vez, tem a intenção de devolver prontamente ao setor privado seus direitos inalienáveis. “Não pretendo discutir com empresários ou com mais ninguém sobre isso”, admite com franqueza Capriles. O favorito dos líderes empresariais argumenta que as empresas controladas pelo Estado têm visto sua produção cair, sem fornecer estatísticas para apoiar essa tese. Ele prefere enfatizar o retorno alardeado para os investidores estrangeiros, esperando que sua cornucópia lhe permita manter sua promessa cardeal: a criação de 3 milhões de postos de trabalho em seis anos. A ortodoxia liberal que permeia seu programa não poupa a Segurança Social, da qual o Estado perderia o controle em benefício de um sistema misto que daria ênfase à “poupança individual voluntária.” Por sua vez, a Mesa da Unidade Democrática (MUD), a coligação heteróclita formada pelos partidos que apoiam Capriles, reclama uma “flexibilização” da lei que rege o controle estatal sobre a indústria do petróleo “para promover a concorrência e a participação do setor privado”.3

Bem de acordo com seu desejo de conquistar um amplo apoio, o candidato anti-Chávez não está seguro de que conseguirá seduzir muito além das classes médias que compõem a base de seu próprio partido, o PJ. Primeiro, porque ele veio de uma família de empresários que fizeram fortuna nos mais diversos setores, do mercado imobiliário à indústria, passando pelos meios de comunicação: um perfil pouco divulgado no seio da classe política venezuelana. Além disso, Capriles é ex-prefeito de Baruta, um gueto chique da Grande Caracas. Não dá para ter certeza que a imagem modesta e jovem que ele tenta impor a si próprio seja suficiente para compensar tal currículo entre os eleitores menos favorecidos, mesmo que eles estejam cansados de Chávez.
O líder da oposição nem sempre é ajudado por suas próprias tropas. Recentemente, o MUD atacou de frente a Missão Habitação, chamando de “fraude” e “fracasso” a desapropriação de terras para a criação de hábitats sociais. Uma ofensiva arriscada, tratando-se do programa de governo mais popular dos anos Chávez. De acordo com o ministro da Informação, Andrés Izarra, os primeiros objetivos foram alcançados com a construção de 200 mil moradias desde o lançamento do plano, em 2011.

Sem nunca esquecer seu passado militar, Chávez a apresentou como uma “guerra” que deveria mobilizar o conjunto do governo e do movimento bolivariano. Em alguns distritos, estudantes recebem uma bolsa para treinar “brigadas” responsáveis pela construção de casas. Mas o papel principal está com os 30 mil conselhos comunitários criados desde 2006. Eles são os únicos que empregam trabalhadores, qualificados ou não, e selecionam os beneficiários do programa. O contrato de “substituição das favelas por moradias dignas” estipula em que lugar e de acordo com quais padrões a nova casa deve ser construída. Cada trabalhador é pago no final do projeto, na forma de um cheque emitido por um banco nacionalizado, já que os pagamentos em espécie geraram malversações de fundos no passado. Além disso, medidas são tomadas para evitar que as casas sejam revendidas de forma especulativa. “Estamos em um processo de aprendizagem no qual os erros antes cometidos por falta de controle são corrigidos progressivamente”, explica Leandro Rodríguez, da Comissão de Participação Cidadã do Congresso Nacional.

Chávez escolheu oportunamente a data de 1o de maio, em pleno coração da campanha eleitoral, para aprovar o novo Código do Trabalho, última grande iniciativa de seu mandato. Os progressos que ele traz não são nada cosméticos: a redução do tempo de trabalho para quarenta horas por semana (contra 44 anteriormente), a proibição da terceirização em benefício da estabilidade de emprego e a extensão da licença-maternidade para 26 semanas (contra 18 anteriormente). O texto também restaura o antigo sistema de indenizações de licença, abolido em 1997 pelo governo liberal da época. A partir de agora, o trabalhador demitido receberá um bônus igual ao valor de seu salário mensal multiplicado pelo número de anos na empresa – uma reivindicação antiga dos sindicatos venezuelanos. Capriles protestou contra a nova lei, argumentando que isso não resolve o problema do desemprego ou da situação dos trabalhadores sem contrato de trabalho, privados da proteção social. Em seguida, explicou a natureza da queixa: “Chávez tirou da cartola essa lei para ajudá-lo a ganhar em 7 de outubro”.

 Reaproximação com os Estados Unidos

O resultado da eleição terá um grande impacto sobre todo o continente sul-americano. Capriles já prometeu restabelecer relações amistosas com os Estados Unidos, enquanto outros membros da oposição anunciavam uma revisão completa dos programas de ajuda e de cooperação firmados entre a Venezuela e alguns de seus vizinhos. Um acordo desse tipo também está previsto com a China, que forneceria empréstimos baratos em troca de petróleo. Finalmente, durante a visita do presidente iraniano Mahmoud Ahmadinejad a Caracas, em junho, Capriles não deixou de denunciar a aliança incomum com Teerã, exigindo que o governo “se preocupe em vez disso com os interesses da Venezuela, criando empregos para os venezuelanos”.

O ativismo pan-americano de Chávez resultou na criação de vários organismos supranacionais: a União de Nações Sul-Americanas (Unasul) – presidida por seu homem de confiança, Alí Rodríguez Araque –, a Comunidade dos Estados Latino-Americanos e do Caribe (Celac), fundada em Caracas, em dezembro, e, finalmente, a Aliança Bolivariana para os Povos de Nossa América – Tratado de Comércio dos Povos (Alba-TCP), que inclui, entre outros, Venezuela, Cuba, Bolívia, Equador e Nicarágua.4 Em junho, por iniciativa de Chávez, o bloco latino-americano condenou vivamente a deposição ilegal do presidente do Paraguai – de esquerda – Fernando Lugo, apontando a inércia dos Estados Unidos e do organismo por eles controlado, a Organização dos Estados Americanos (OEA). A resposta imediata do presidente venezuelano (convocação de seu embaixador no Paraguai, suspensão do fornecimento de petróleo) lhe valeu, mais uma vez, reclamações de Capriles.

 Diante da perspectiva de uma alternância em Caracas, uma impaciência febril tomou conta de Washington. Para a Casa Branca e a classe política norte-americana em sua grande maioria, Chávez continua sendo o inimigo público número um nessa parte do mundo. Três semanas antes de deixar a presidência do Banco Mundial, em junho, Robert Zoellick, resumiu a esperança geral: “Chávez está com os dias contados”. E alegremente previu que, privados da ajuda venezuelana, países como Cuba e Nicarágua em breve enfrentariam “tempos difíceis”. Esse cenário de sonho, acrescenta Zoellick, forneceria “uma oportunidade para transformar o hemisfério ocidental no primeiro hemisfério democrático”, em oposição ao “santuário de golpes de Estado, caudilhos e cocaína” que, segundo ele, o pesadelo bolivariano encarna. No início de 2012, o ensaísta Michael Penfold alertou na revista Foreign Affairs: “Se Chávez vencer em outubro, grande parte da oposição política venezuelana será esmagada. De muitas maneiras, isso será um retorno à estaca zero”.5

Mesmo entre os especialistas em América Latina, as comparações entre o presidente venezuelano e seus colegas de mesma sensibilidade raramente ficam a favor dele. Em um livro dedicado ao impulso dos movimentos de esquerda na América do Sul, os pesquisadores Maxwell Cameron e Kenneth Sharpe retratam Chávez com os traços de um déspota fervorosamente empenhado em “desmantelar as instituições políticas do Estado” e “criar um partido oficial servil”, enquanto o presidente boliviano Evo Morales simbolizaria um “movimento político em que a função do dirigente não consiste em monopolizar o poder”.6

Apenas um punhado de intelectuais acredita que Chávez fez melhor do que seus iguais na Bolívia, no Equador ou em outros lugares. Jeffrey Webber, um universitário engajado e coautor de outro livro sobre as esquerdas sul-americanas, chama Morales de “neoliberal reconstituído”, mas aplaude Chávez por ter “revivido a crítica ao neoliberalismo e recolocado na ordem do dia o debate sobre o socialismo”.7 Não é sem razão que os políticos e observadores de todos os matizes tendem a dar um tratamento especial ao regime venezuelano. Expropriações de grande amplitude, reformas para inverter a ordem liberal das coisas, redistribuição das receitas do petróleo, programas de cooperação para beneficiar países vizinhos mais pobres: poucos governos no mundo podem se orgulhar de ter impulsionado reformas tão audaciosas – ou também espoliadoras, dependendo do ponto de vista.

“Cinturão de esquerda” no continente

Uma nova vitória de Chávez em outubro poderia acelerar a dinâmica de transformação social em curso na Venezuela. Seu programa “Para uma administração bolivariana e socialista 2013-2019” defende a intervenção mais maciça do Estado nas áreas de comércio e transporte, por meio de “centros locais de distribuição para a venda direta de produtos”, que eliminaria intermediários e tornaria obsoleto o modelo de varejo dominante fora dali.

Outro objetivo: a extensão dos poderes democráticos exercidos pelos conselhos comunitários. Centenas de “comunas em construção” em todo o país, cada uma agrupando uma dúzia ou mais de conselhos, garantiriam serviços de utilidade pública, como a distribuição de gás ou de água. No total, as novas comunas representariam 68% da população. Elas disporiam das mesmas prerrogativas que o Estado e as prefeituras, sobretudo na elaboração dos orçamentos, no planejamento e na arrecadação dos impostos.

Em um nível mais amplo, a reeleição de Chávez consolidaria o “cinturão de esquerda” que atravessa a América Latina e restringiria assim a esfera de influência dos Estados Unidos. A ascensão das esquerdas na América do Sul nos últimos anos tem favorecido os processos de unificação no continente. Se a direita venceu a eleição no Chile, em 2009, ela não esperou muito tempo para que entrasse em colapso a popularidade do presidente Sebastián Piñera. No ano seguinte, a vitória na Colômbia do centrista Juan Manuel Santos augurava uma desventura semelhante, mas o novo presidente logo se juntou ao objetivo da união latino-americana defendido pela esquerda, chegando a se dar ao luxo de erguer o tom contra Washington em várias questões-chave.8 Apenas o Paraguai, depois da deposição do presidente Lugo, marcha atualmente na contramão de seus vizinhos.

Mas ainda é na Venezuela que a eleição de outubro assume seu significado mais decisivo. A derrota de Chávez resultaria – apesar do que diz seu rival – em levar o país para a situação de antes de 1998. Um novo mandato daria a seu reinado dezoito anos de idade; é muito, talvez demais. A transformação social de um país durante um período tão longo, sob a liderança de um chefe de Estado eleito democraticamente, representaria, no entanto, uma experiência sem equivalente na história.

Steve Ellner
Professor de História da Universidade de Oriente (Venezuela) e autor deRethinking Venezuelen politics Class, conflict amd the Chávez phenomenon, Lynne Riemmer. Boulder (Colorado), 2008.
Ilustração: Benett

1 Keane Bhatt, “Our man in Caracas: the U.S. media and Henrique Capriles” [Nosso homem em Caracas: a mídia dos Estados Unidos e Henrique Capriles], Nacla, 18 jun. 2012. Disponível em: www.nacla.org.
2 Ler Maurice Lemoine, “Caracas em chamas”, Le Monde Diplomatique Brasil, ago. 2010.
3 VenEconomía, Caracas, v.29, n.6, mar. 2012, p.2.
4 Steve Ellner, “Latin American unity takes center stage at Cartagena summit” [Unidade latino-americana toma o lugar central na Cúpula de Cartagena], Nacla, jul.-set. 2012.
5 Michael Penfold, “Capriles Radonski and the new Venezuelan opposition” [Capriles Radonski e a nova oposição venezuelana], Foreign Affairs, 26 jan. 2012. Disponível em: www.foreignaffairs.com.
6 Maxwell Cameron e Kenneth Sharpe, “Andean left turns. Constituent power and constitution making” [Esquerda andina ativa. Poder constituinte e fazer da Constituição]. In: Latin America’s left turns. Politics, policies and trajectories of change [Esquerda latino-americana ativa. Política, políticas e trajetórias de mudança], Lynne Rienner Publishers, Boulder, 2010, p.68 e 74.
7 Jeffery Webber, “Venezuela under Chávez. The prospects and limitations of twenty-first century socialism, 1999-2009” [Venezuela sob Chávez. Perspectivas e limitações do socialismo do século XXI, 1999-2009], Socialist Studies/Études Socialistes, Victoria, 2010; J. Webber, “From left-indigenous insurrection to reconstituted neoliberalism in Bolivia” [Da insurreição de indígenas de esquerda à reconstituição do neoliberalismo na Bolívia]. In: Barry Carr e J. Webber (orgs.), The new Latin American left. Cracks in the empire [A nova esquerda latino-americana. Rachaduras no império], Rowman and Littlefield, Lanham, 2012.
8 Ler “Histoire des gauches au pouvoir” [História das esquerdas no poder], Manière de Voir, n.124, ago-set. 2012.

sábado, 27 de outubro de 2012

ATUALIDADES DA GUINADA DA ESQUERDA NA AMERICA LATINA

Por Andrea Lucia De Souza Lima


Nos últimos 7 anos os estados latino-americanos têm experimentando governos com tendências esquerdistas. Paises como Argentina, Bolívia, Brasil, Uruguai, Venezuela, alguns menos outros mais radicais buscam alternativas para o imperialismo em seus territórios. O surgimento dos movimentos sociais (populares e de outra natureza  de gênero, ecológicos, indígenas, de negros, de direitos humanos, etc.), são geradores de novos sujeitos sociais que fortaleceram a sociedade civil nas últimas décadas, trazendo práticas inovadoras que questionaram práticas tradicionais implementadas pelo Estado e pelo mercado, tais como o rompimento com vários privilégios.
O tema da ascensão da esquerda ganhou destaque entre os analistas e cientistas políticos , a partir das eleições ocorridas na América Latina no período recente, quando líderes identificados com as "causas populares" foram eleitos com ampla maioria de votos. Falou-se de uma "esquerdização" na América Latina, cujo sentido foi assim expresso por uma autoridade política:



O que há, sem dúvida nenhuma, é uma tendência de governos mais comprometidos com reformas sociais, com maior autonomia em relação às grandes potências do mundo e maior vontade de integração regional. Se você identificar esquerda com a visão de progresso, reforma social, democracia e com forte defesa dos interesses nacionais, a resposta à sua pergunta é sim.(AMORIM, 2006).

Depois de tantos anos submetidos às explorações de paises imperialistas, no inicio a Europa e depois os EUA, cansadas de viver uma situação de estrangulamento econômico, e muitas vezes teve sua soberania violada por essas potencias, a sociedade latina americana começa a buscar novidades para as urnas com esperança de mudanças do atual sistema.
Diante dos avanços dos movimentos populares, notadamente organizações indígenas, em todo o hemisfério, os dirigentes não poderiam menosprezar o diploma de progressismo e de independência dos Estados Unidos que pode conferir um apoio visível por parte de Hugo Chávez e Evo Morales. Além do mais, a amplidão das entradas de divisas que lhe proporcionam as suas exportações de hidrocarbonetos permite a Caracas conduzir uma diplomacia de influência, e não apenas na América Latina, como também em paises Árabes, que hoje são os principais inimigos dos Norte-Americanos.
O presidente Venezuelano hoje difunde em seu pais a chamada Revolução bolivariana. Conta com apoio de grande parte da população, de origem carente para fazer as reformas necessárias. Durante o Fórum Social das Américas que aconteceu entre 23 a 29 de janeiro de 2006, na capital, Caracas, apresentou aos intelectuais, estudantes, e membros de movimentos sociais de toda América Latina que estavam ali presentes várias conquistas de sua revolução. Tem entre alguns de suas prioridades inovadores programas sociais, que garantiram educação gratuita para um milhão de crianças pobres e a alfabetização de 1,2 milhão de pessoas, que resultaram na triplicação do orçamento na área da saúde e que distribuíram terras para 117 mil camponeses. Além de garantir aos pobres, saúde gratuita, também estatizou uma rede de supermercado onde são vendidos produtos a preço popular nas comunidades mais carente. As razões para a popularidade de Chávez são óbvias. Nenhum regime anterior tinha este comprometimento com os pobres.
Podemos então qualificar que as reforma que Hugo Chavez propõe ao povo Venezuelano tem caráter revolucionário, segundo o conceito de Bresser citado no primeiro capitulo que diz



Quem quer acabar com a ordem é um extremista ou um revolucionário, que busca instalar uma outra ordem. Extremista se sua perspectiva for autoritária, se a ordem que busca destruir for democrática; revolucionário, se seu compromisso for com a democracia, se a ordem que precisa derrubar é opressiva. De esquerda, se seu objetivo for a igualdade plena, de direita, se sua aspiração maior for apenas restaurar uma ordem que julga perdida ou ameaçada. (1997 p.55)

Uma vez que foi eleito democraticamente pelo povo, e ainda tem o consentimento e a simpatia da grande maioria da população. Ao mesmo tempo em que, também pode-se qualificá-la, de Velha esquerda, segundo o conceito desse mesmo autor, quando diz :



A Velha Esquerda tem uma visão negativa do nacionalismo, convencida de que o país é cercado por potências imperialistas. Tem, em geral, uma atitude "contra" países avançados, vistos como "potências imperialistas", e prefere antes fechar o país à influência estrangeira a negociar interesses mútuos e conflitantes (2000p. 155)

Nestes termos pode-se dizer que impera hoje na Venezuela é uma esquerda, revolucionaria e velha, segundos os conceitos de Bresser.
O Chanceler Mexicano, Jorge Castañeda , atribui a guinada da esquerda na América Latina, nos últimos anos, uma conseqüência do reformismo econômico dos anos 90 não viu a massa de excluídos que fermentava na América Latina e hoje coloca a centro-esquerdo no poder. Em uma entrevista publicada no Estado de São Paulo em 30 abril 2006 ele responde essa questão afirmando que :



Por um lado, as reformas econômicas realizadas no período da democratização não produziram os resultados prometidos às pessoas. O Chile é exceção. Por outro lado, os governos desse período produziram resultados positivos em termos de democracia. Se você permite que as pessoas votem livremente em países cujas economias não prosperam, não é portanto um milagre haver um movimento para a esquerda.Aconteceu na Europa entre o fim do século 19 e a 2ª Guerra. E acontece hoje na América Latina. Os pobres, a grande massa dos excluídos, votam pelas políticas e para políticos que, assim esperam, os farão menos pobres. Quando escrevi A Utopia Desarmada: a Esquerda Latino Americana depois da Guerra Fria (publicado em 1994) já estava claro para mim que, independentemente dos resultados das reformas econômicas então em curso em vários países, a combinação de mais democracia com a desigualdade no acesso à renda, à riqueza, ao poder e às oportunidades, que é maior na América Latina do que em qualquer outra parte do mundo, resultaria em governos de centro esquerda na região.

Afirma ainda que o que vemos hoje são duas esquerdas. De um lado, a "boa esquerda", que, paradoxalmente, é herdeira da esquerda tradicional, identificada com os partidos socialistas e comunistas do passado. Em graus variados, ela é reformista, moderna, está aberta a novas idéias. É também internacionalista. Estou falando aqui na esquerda do Chile, de parte da esquerda brasileira, de parte da esquerda uruguaia. Ela busca a inclusão através de políticas sociais, da criação de empregos, de programas para melhorar a educação, a saúde, as condições e de organização das pessoas, respeitando os equilíbrios macroeconômicos básicos. É uma esquerda que busca resultados. Chama a outra esquerda de herdeira do populismo, que é a contribuição da América Latina à ciência política e o que há de pior em nossa história. Aponta adjetivos como : nacionalista, barulhenta, mentalmente fechada. E qualifica como essencialmente, burra. Ao contrário da esquerda reformista, que aprendeu com os erros do passado, a esquerda populista não aprendeu nada. É diz que é esquerda só mesmo na retórica. Quanto sua atuação ele diz:



Na ação, nada oferece de novo. Repete os populistas do passado. Sua solução para os problemas é distribuir dinheiro público. É assim que tenta incluir as massas. É o que faz Chávez com a gente pobre dos ranchos de Caracas. Ela dá dinheiro porque tem dinheiro, graças ao petróleo. Não está criando emprego, não está melhorando a educação, não está levando à redução dos níveis de pobreza. O mesmo ocorre com Kirchner, na Argentina. Ele não tem uma política econômica de geração de emprego, de busca de competitividade, de melhoria da educação. O que há é a redução dos pagamentos da dívida e distribuição do dinheiro por meio de programas assistenciais.

No que se refere ao Presidente Evo Morales da Bolívia Castañeda diz que É líder de um movimento camponês tradicional, latino-americano, que chega ao poder por uma série de ações um "pouco caudilhescas". Segundo ele Morales não vem da esquerda. Não vem nem da tradição da COB (Central Obrera Boliviana), nem do Partido Comunista, nem do trotskismo boliviano, que foi importante em seu momento. "Morales é um dirigente cocalero cuja força deriva em parte dos indígeneas, em parte de uma base popular entre os excluídos nas cidades, por razões que não têm muito a ver com fenômenos de esquerda". Vê como responsável da sua presença no poder os movimentos sociais. E não vê como democrática suas atitudes.
Referente a posição brasileira e dos demais paises latinos quantos ao anti-imperialismo Castaneda diz que "o Brasil é um país demasiado grande, demasiado sério, com demasiados interesses e demasiadas responsabilidades para jogar o anti -imperialismo". Esse é um jogo a que só permitem aos pequenos. Não vê com otimismo as relações entre o Brasil e a Venezuela, acredita que essa relação tende se desgastar, porque os interesses reais não são os mesmos. Não vê o Brasil como imperialista na região. Afirma que o presidente Venezuelano não honra com seus compromissos internacionais no combate ao narcotráfico e crime organizado.
Existe uma ausência de política americana voltada para América latina no momento pois os Estados Unidos estão preocupados com os paises árabes e o terrorismo, e nesse momento o que observa-se, segundo Castañeda no continente latina americano e um sentimento muito forte anti-americanismo. A política de Washington nesses países é claramente insuficiente. O projeto da Alca foi o centro da estratégia de Bush. Não importa se a Alca era boa ou ruim. O que importa é que fracassou. Também não há política ativa sobre narcotráfico. E os EUA parecem não fazer distinção entre as duas esquerdas que há hoje na América Latina.
O professor do Departamento de Economia do Trabalho da Universidade de Campinas (Unicamp) e especialista em salário mínimo, Cláudio Dedecca discorda da posição do autor Jorge Castañeda Para ele a posição do Castañeda é típica da arrogância intelectual. Não reflete a dinâmica política da América Latina. Trata-se de uma posição que despreza a história recente do continente. Dedecca diz ainda que , fazer uma dicotomia entre a "boa esquerda" – que seria refinada e culta – e a outra, é muita pretensão.
Ele defende em um debate , publicado no jornal da Unicamp que :



O que tem de novo nesses movimentos de esquerda da América Latina é que quem faz não é a esquerda da gravata, dos representantes poliglotas, mas sim aquela que representa um povo que não teve oportunidade de se organizar e de falar o que pensa. A sociedade culta não só estranha como vê nisso uma imoralidade

E quando e quanto à posição de Castañeda ele discorda dizendo :



Essa posição conservadora do Castañeda não tem pé nem cabeça. Você pode até questionar os rumos que parte da esquerda está adotando, mas é inegável que as experiências brasileira, argentina, venezuelana, boliviana, além de outras, são avanços democráticos extremamente importantes para a América Latina, inclusive no sentido de conformar partidos políticos e esquerdas mais consistentes. Isso faz parte da democracia.


sexta-feira, 26 de outubro de 2012

Guerra das Malvinas

O aniversário de 30 anos da Guerra das Malvinas reacendeu a memória de um conflito que divide até hoje argentinos e britânicos. Em fevereiro, o governo argentino pediu a reabertura de negociações sobre a soberania das ilhas e acusou o Reino Unido de militarizar a área após o envio de um navio britânico. 

A campanha pela retomada das negociações ganhou o apoio do argentino Adolfo Pérez Esquivel, que lidera um documento assinado por um grupo de seis prêmios Nobel da Paz. Já o Reino Unido, onde o arquipélago é conhecido como Falklands, prepara uma comemoração discreta para lembrar as três décadas em que venceu o conflito. 

A guerra começou em 2 de abril de 1982 após a Argentina invadir o arquipélago que considera sua extensão territorial histórica. O país entende que, ao se tornar independente em 1822, passou também a controlar as ilhas, que pertenciam aos espanhóis. Já os britânicos afirmam que dominam a região desde 1833, quando ocuparam e colonizaram o arquipélago. 

Para os historiadores, o início da guerra foi a arma do ditador argentino, general Leopoldo Galtiere, para dar fôlego ao governo militar, já agonizante no país. A então primeira-ministra britânica Margareth Thatcher, que enfrentava uma crise de popularidade, reagiu com força. 

Nas primeiras semanas de abril a Junta Militar tentou acenar com a ideia de aplicar oTratado Interamericano de Defesa (Tiar) e esperava o respaldo dos Estados Unidos. Galtieri tinha a certeza de que o presidente Ronald Reagan estava agradecido pelo combate ao comunismo feito pela ditadura argentina. Os generais argentinos diziam que tinham um grande aliado: o "general inverno". Além disso, afirmavam que as tropas inglesas chegariam desgastadas pela longa viagem até o arquipélago. 

No final de abril, 28 mil soldados em 100 navios chegaram ao arquipélago para defender seus 1.800 habitantes, considerados por Thatcher parte da “tradição e reserva britânica”. A Argentina contava com uma tropa com 12 mil soldados nas ilhas e cerca de 40 navios. 

No dia 2 de maio, os britânicos afundaram o navio argentino General Belgrano, matando todos os 326 tripulantes. Dois dias depois, a embarcação britânica HMS Sheffield foi atingida por um míssil Exocet e afundou deixando 20 mortos. 

O tom propagandístico da ditadura tornou-se mais religioso, e os militares argentinos alertavam contra o inimigo "ateu, pornógrafo e protestante" e evocavam a proteção da Virgem de Luján. Simultaneamente, em um verdadeiro show de travestismo ideológico, a ditadura procurava o respaldo da Líbia de Muamar Kadafi e da URSS e mandava emissários à cúpula de países não-alinhados naCuba de Fidel Castro. Enquanto isso, no Atlântico Sul os mútuos ataques aeronavais continuavam. 

A guerra, que durou 75 dias, só acabou em 14 de junho, com a rendição dos argentinos. Ao todo, 258 britânicos e 649 argentinos morreram no conflito. 

As relações diplomáticas entre o Reino Unido e a Argentina só foram retomadas em 1990, mas ainda há rusgas. Desde então, o governo argentino mantém uma reivindicação pacífica das ilhas, mas o Reino Unido diz que a soberania do território não está em negociação. 

Cerca de mil soldados britânicos patrulham as Malvinas e estão envolvidos em ações como construção de estradas e monitoramento de campos minados.

Exceto pela defesa, os cerca de 2,9 mil moradores da ilha atualmente são autossustentáveis. A venda de licenças para pescar garante boa parte da arrecadação, mas a agricultura também é importante. O Reino Unido explora a área ainda em busca de petróleo. 

O turismo também vem crescendo ao longo dos anos no arquipélago, que recebe cerca de 5 mil cruzeiros por ano de turistas interessados na rica diversidade marinha e nas colônias de pinguins.


“Es la pelea de dos calvos por un peine” (“É a briga de dois carecas por um pente”), 
Jorge Luis Borges, sobre a futilidade de uma guerra por um arquipélago árido. 

“Malvinas para los pingüinos!” (“A Malvinas para os pinguins”), inscrição bem humorada em camisetas impressas no Brasil durante a guerra, fazendo referência aos animais que são maioria no arquipélago disputado entre Argentina e Grã-Bretanha 


“Estas ilhas não produzem coisa alguma. Neve, granizo e gelo. O ar está sempre úmido. Os alimentos daqui reduzem-se a peixe. É para mim este um país cruel. O reino deverá subsidiá-lo”, Frei Felipe de Mena, clérigo espanhol, em 1767 

“Hubieran sido amigos, pero se vieron uma sola vez cara a cara, em unas islas demasiado famosas, y cada uno de los dos fue Caín, y cada uno, Abel” (“Teriam sido amigos, mas viram-se uma única vez cara a cara, em umas ilhas famosas demais, e cada um dos dois foi Caim e cada um, Abel”), trecho do poema “Juan López e John Ward, de Jorge Luis Borges, sobre dois soldados – um britânico e outro argentino – amantes da literatura do país do outro, que matam-se mutuamente na Guerra das Malvinas


(Fonte: Wikipedia/ Estadao)



sexta-feira, 12 de outubro de 2012

Programaçao Semana do Conhecimento

Dica de visita para a Semana do Conhecimento : Museu PONTO UFMG!





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quinta-feira, 11 de outubro de 2012

Energia

Primeira fonte energética que o homem conheceu foi o sol. E através dele, o homem se aquecia e orientava o seu dia. Depois, o homem aprendeu a dominar o fogo, e isso revolucionou seu modo de vida. Com o fogo o homem pode se proteger mais, e produzir instrumentos . Com a melhoria dos instrumentos o homem podem produzir mais alimentos, pode melhorar suas técnicas de construção, e assim, multiplicou-se pela terra. Depois, o homem aprendeu a domesticar os animais e usar sua força para girar moendas, arar o solo, etc... E, depois, descobriu que o vapor gerado pela queima do carvão poderia fazer girar engrenagens, nascendo a maquina à vapor. Em meados do século XVIII, surge a energia elétrica. E no inicio do seculo XX, difundiu-se o uso dos combustíveis fosseis.

Considerados uma fonte abundante e barata, os combustíveis fósseis alimentaram o transporte, a industria e as residências do mundo contemporâneo sem preocupação com uso eficiente e, muito menos, preocupações ambientais, que à época, não existiam. A demanda energética cresceu com o aumento populacional e desenvolvimento industrial. E deve crescer ainda mais 50% nos próximos 20 anos, por conta de países como China e India. No mundo hoje, a geração de energia é 15% renovável e 85% combustíveis fosseis. 

A produção de riqueza esta diretamente ligado a produção e consumo de combustível, assim como a falta de energia está ligada ao subdesenvolvimento. A produção de energia agravou diferenças sociais: 1,6 bi não tem acesso à energia elétrica. 200 milhões na Africa, 200 Asia Oriental, 700 no sul da Asia, 5 milhões no Brasil. 

Nas ultimas duas décadas, percebeu-se que a principal causa do efeito estufa é justamente a queima desses combustíveis o que deu inicio à uma preocupação mundial com o desenvolvimento de novas e sustentáveis fontes de energia, uma questão que requer o desenvolvimento de tecnologias e altos custos. 

Embora 50% da matriz energética brasileira seja renovável (hidrelétrica) , o Brasil é o 5º mais poluente por causa do desmatamento e das queimadas.

Carvão : Foi o combustível da Revolução Industrial, e seu consumo aumentou 65% nos últimos 25 anos. Gera 40% da eletircidade do mundo e é o mais poluente dos combustíveis fosseis.

Petroleo : Começou a ser usado a partir de 1850. Além de combustível gera matéria prima para fertilizantes  plásticos, tecidos, etc. Gera 7% da eletricidade do mundo. Seu uso é, aproximadamente, 57% no transporte e 19% na industria. O uso do petróleo trouxe outros problemas de origem política e econômica (guerras árabes).

Gás Natural : menos poluente dos combustíveis fosseis. É previsto um aumento de demanda até 2030 de 25%. É usado na industria e geraçao de energia eletrica. 

Outras energias:

Energia Nuclear: A geração de energia atravessa da fissão ou fusão de nucleos atomicos é cara e requer tecnologias muito avançadas. Desperta muita apreensão devido aos problemas que pode causar no caso de vazamentos ou explosões, como aconteceu em Chernobyl (1986) e Fikushima (2011).
No Brasil, as usinas de Angra dos Reis geram o equivalente à 20% da produçao da hidreletrica de Itaipu. A tecnologia é usada nao somente em geraçao de energia, mas tambem em pesquisa, medicamentos, diagnostico, etc...E o Brasil planeja construir mais 5 até 2030.Representa 75% energia da energia francesa. A China, maior poluidora (mas tambem o pais que mais investe em energia limpa) planeja novas 100 usinas para próximos 15 anos.

Energia Eolica : Baseia-se na transformação de energia cinética em elétrica. É gerada em torres com hélices, como os moinhos de vento. 
O Rio Grande do Sul possui o maior parque instalado de energia eólica da America Latina.

Energia Solar : placas de silicio fornecem dois tipos de energia: a térmica e a fotovoltaica (transformaçao do calor em eletricidade). As placas sao exportadas para o Brasill, o que a torna cara, além da falta de investimento do governo, embora o pais possua um otimo potencial de ensolaçao.

Alcool : para compensar as emissões de CO2 durante a colheira (queimada) e desmatamento, a tecnica do processamento de cana de açúcar foi adaptado e passa tambem a usar o bagaço para produzir biomassa (que gera creditos de carbono). No Brasil, começou a ser usado em 1970 com o Programa Nacional Pró-alcool, incentivado pelo Estado, menos poluente , e pela metade do preço do álcool americano.

Lixo : produz o biogás e deixa de liberar metano ( 21 vezes mais poluente que CO2). 

Hidrelétricas: Mesmo principio da energia eólica, utilizando a força da água. Os pontos negativos são os impactos ambientais e sociais de sua construção. É a principal fonte energética do Brasil.

Especialistas ambientais criticam os Estados tratarem as energias limpas como “ complementares” e não pensar uma substituição. Falta também incentivo governamental. 

Segundo eles, é preciso encontrar o equilíbrio entre consumo, produção energética e sustentabilidade. Para isso é necessário que ocorra uma revolução tecnológica e comportamental. Além do desenvolvimento tecnológico - visando uso eficiente dessas fontes - é preciso controle inteligente, o que permitiria um consumo adaptado à produção, e não o contrario, como ocorre hoje.

“O sol é nosso.”

quarta-feira, 10 de outubro de 2012

Irã

O Irã, ao contrario de muitos países árabes, nunca foi colonizado. Conhecido até 1935 como Pérsia, esteve sob domínio de diversas dinastias. Durantes as duas primeiras décadas do século XX, sofreu pressões dos impérios britânico e russo, que tentavam estabelecer suas influencias no local. 

Entre 1905-1921 passou pela Revolução Constitucional, processo que culminou com a subida ao poder de Reza Pahlavi. Durante seu governo, o Irã procurou se modernizar, e para isso, começou a se aliar aos interesses norte-americanos. Em 1941, os Aliados (EUA e Reino Unido), interessados nos recursos petrolíferos do Ira, forçaram o xá à abdicar o poder em favor de seu filho, que acreditavam mais favorável às suas pretensões. 

Entretanto, isso não aconteceu. Em 1951, Mohammad Reza Pahlavi (filho) nacionalizou Anglo-American Oil Company e entrou em conflito com seu primeiro-ministro, o que levou à deposição deste ultimo. O reinado do xá tornou-se ditatorial, sobretudo no final dos anos 1970. Durante esse tempo, esmagava a oposição do clero xiita e dos defensores da democracia.

O poder de Mohammad Reza Pahlavi foi abalado em 1979, com o retorno do Aiatolá Khomeini, que estava no exílio ha 14 anos. A mobilização em torno do líder religioso deu início à Revolução Iraniana, na qual o aiatolá assume o poder supremo do pais, estabelecendo a república islâmica, com leis conservadoras inspiradas no Islamismo e com o controle político nas mãos do clero. A partir daí, as relações com o Ocidente foram se desgastando por causa das críticas direcionadas, principalmente aos EUA. O novo governo também passou a apoiar grupos militantes anti-Ocidente como o Hezbollah do Líbano. Durante 1980-88, o Irã e o Iraque enfrentaram-se numa guerra por motivos ideológicos, incentivada pelos EUA.

Em 1989 Aiatolá Khomeini faleceu, e em seu lugar assumiu o aiatolá Ali Khamenei. Em 2005, Mahmoud Ahmadinejad foi eleito presidente, e desde então, sua figura tornou-se mais poderosa que a do aiatolá. 

O governo de Ahmadinejad é cercado de polemicas. Suas criticas à Israel, aos EUA, e às tensões com países vizinhos, aumentaram nas tensões entre o Irã e inúmeros países ocidentais. Outra questão problemática é o programa nuclear iraniano, criticado por não acatar as exigências da Agencia Nacional de Energia Atômica, como fiscalização e desenvolvimento para fins pacíficos, já que o Irã fez diversas referencias ao desejo de exterminar Israel. Alem disso, o Irã é acusado de desrespeito aos direitos humanos, reprimindo suas população, sufocando opositores. 

Abaixo, algumas questoes para complementar o estudo!


1) (CESPE-2012) O embargo da União Europeia ao petróleo iraniano — divulgado pela imprensa mundial em julho de 2012 — consiste em uma das mais duras sanções econômicas impostas ao Irã em trinta anos. Considerando-se essas informações, é correto afirmar que as pressões da comunidade internacional sobre o sistema político iraniano pretendem forçar o regime dos aiatolás a:

a)     afastar-se do Conselho de Segurança da ONU.
b)     retirar-se da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (OPEP), enfraquecendo-a.
c)     dividir o poder com a minoria formada pelos curdos.
d)     desistir de seu programa nuclear.
e)     promover a paz com o Iraque, país sob o comando de Saddam Hussein.
2) (VUNESP - 2010) O Congresso dos Estados Unidos aprovou [em 24.06.2010] sanções ainda mais duras contra o Irã (...). A legislação pune empresas estrangeiras que contribuam com a indústria de energia iraniana e também bancos que façam negócios com a Guarda Revolucionária Iraniana - o braço militar do regime (...).
(Folha de S.Paulo, 25.06.2010)

As sanções citadas pela notícia têm como objetivo
a)     enfraquecer a política econômica dos EUA no Oriente Médio.
b)     fortalecer a liderança do Irã junto aos países árabes.
c)     pressionar o Irã a suspender seu programa nuclear.
d)     forçar a retirada dos exércitos norte-americanos do Iraque.
e)     impedir a formação de aliança militar entre Irã e Rússia.

3) (CESPE - 2006) “Os cinco membros permanentes do Conselho de Segurança das Naçoes Unidas – EUA, Russia, Reino Unido, França e China -  e a Alemanha se reúnem hoje, em Moscou, para discutir a crise nuclear com o Irã, mas o impasso parece cada vez mais longe de ser resolvido, apesar das reiteradas ameaças de ataque militar a instalações onde o regime de Teerã artaria desenvolvendo clandestinamente sua bomba atômica”
Fonte: Correio Brazilliense, 18/4/2006, p.21 (com adaptações)

O texto acima registra os tempos de insegurança internacional que vive o mundo atual. Com relação ao tema do texto e a suas implicações no mundo contemporâneo, assinale a opção correta.

a)     O mundo vive uma fase de franco controle multilateral de tendências beligerantes entre os Estados.
b)     O Conselho de Segurança das Nações Unidas não tem conseguido mediar de forma plena as tensões que envolvem os EUA com países do Oriente Médio.
c)     O Irã não é país signatário do Tratado de Não-Proliferação de Armas Nucleares e declarou claramente que quer construir sua bomba atômica para lançá-la sobre os norte-americanos.
d)     A insegurança internacional do presente é produto direto e exclusivo dos atentados terroristas do 11 de setembro de 2001.
4) (FCC - 2010) No dia 24 de novembro de 2009, o Correio Brasiliense informava que em breve coletiva à imprensa, o presidente Mahmud Ahmadinejad disse que os dois países procuram resolver os problemas do mundo, combater as injustiças e buscam um mundo livre de armas de destruição em massa, particularmente armas nucleares. Aproveitou para defender, diante do anfitrião, o ingresso do Brasil como membro permanente do Conselho de Segurança das Nações Unidas.
Indique o trecho de matéria que tem nexo político e geográfico com a notícia acima.

a)     A Coreia do Norte irá "pagar um preço" se continuar com seus testes nucleares e de mísseis, violando resoluções internacionais. (O Estado de S. Paulo - 26/05/2009)
b)     A Índia, que realizou seu primeiro teste atômico em 1974 e se declarou potência nuclear em 1998, lançou um ambicioso programa em 1983 para fabricar seus próprios mísseis. (www.veja.abril.com.br. Acesso em 15/12/2009)
c)     Os nacionalistas balúchis também se sentem incomodados porque o exército paquistanês realizou em sua região em 1998 os testes atômicos que demonstram sua capacidade nuclear, mas tem todos os silos atômicos no Punjab. ( (http://blog.controversia.com.br. Acesso 15/12/2009)
d)     Entre todos os países que realizaram testes nucleares, apenas a África do Sul desistiu da bomba atômica. (www.veja.abril.com.br. Acesso em 15/12/2009)
e)     O governo iraniano anunciou ontem que planeja construir dez novas usinas de enriquecimento de urânio, em um claro gesto de desafio às potências ocidentais após a censura da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA), na sexta-feira. (O Estado de S. Paulo. 30/11/2009)

5) (CESPE - 2010) Em processo de visível isolamento por parte da comunidade internacional, o governo do Irã está, na atualidade, sob suspeição. A esse respeito, assinale a opção correta.

a)     Acredita-se que o Irã esteja aproximando-se de Israel, cuja própria existência sempre questionou, com o firme propósito de assumir a liderança inconteste entre os países árabes da região.
b)     Teme-se que o Irã esteja colocando em curso um ambicioso programa de enriquecimento de urânio com fins não pacíficos, ou seja, que lhe permita obter armas nucleares.
c)     Ao aumentar consideravelmente o preço do barril de petróleo que exporta, o Irã ameaça desestabilizar perigosamente a economia mundial.
d)     Ao tomar a recente decisão de desligar-se da Organização das Nações Unidas, possivelmente o Irã procurou libertar- se dos mecanismos de controle de que fazem uso regular as instâncias multilaterais. 
e)     Na América Latina, o atual governo brasileiro, com o apoio do venezuelano Hugo Cháves, lidera o movimento de repulsa às ações internas e de política externa do Irã.

6 - (VUNESP - 2010) O Congresso dos Estados Unidos aprovou [em 24.06.2010] sanções ainda mais duras contra o Irã (...). A legislação pune empresas estrangeiras que contribuam com a indústria de energia iraniana e também bancos que façam negócios com a Guarda Revolucionária Iraniana - o braço militar do regime (...).
(Folha de S.Paulo, 25.06.2010)

As sanções citadas pela notícia têm como objetivo

a)     enfraquecer a política econômica dos EUA no Oriente Médio.

b)     fortalecer a liderança do Irã junto aos países árabes.

c)     pressionar o Irã a suspender seu programa nuclear.

d)     forçar a retirada dos exércitos norte-americanos do Iraque.

e)     impedir a formação de aliança militar entre Irã e Rússia.

7 - (FCC - 2010) O programa nuclear iraniano foi um dos temas abordados por Hillary Clinton em sua recente visita ao Brasil. "Nós debatemos o valor central da não proliferação e o nosso comprometimento comum de fazer com que o Irã não tenha armas nucleares", disse ela. Por outro lado, declarações amplamente divulgadas tornaram evidente a existência de divergências entre os EUA e o Brasil relativas à questão nuclear iraniana. Considere as afirmações:

I. Ao contrário do Brasil, os EUA consideram que as negociações falharam, portanto o caminho é aprovar mais sanções para impedir que o Irã enriqueça urânio e possua armas nucleares.
II. O governo brasileiro é contra sanções e considera que ainda há espaço para negociar com o presidente Mahmud Ahmadinejad, além de reiterar sua posição contra a proliferação de armas nucleares.
III. O Brasil, por não ser signatário de acordos contra a proliferação de armas nucleares, pode manter postura independente e contrária à norte-americana em relação ao programa nuclear iraniano.

Está correto o que se afirma em:
a)     III, apenas.
b)     II e III, apenas.
c)     I, apenas.
d)     I e II, apenas.
e)     I, II e III.





(Gabarito nos comentários!)